Diário de Campo, 11/04/2025

Iniciámos o nosso percurso nas escadinhas de São Cristóvão, na Rua da Madalena. Considero que esta aula em campo foi extremamente produtiva. Percorremos, grosso modo, o mesmo percurso das últimas saídas, começando pelo Largo dos Trigueiros. Observamos um grupo de turistas, maioritariamente homens, brancos, anglófonos, com idades compreendidas, aparentemente, entre os 20 e os 40 anos. 

É de notar que, de manhã, a Mouraria está menos movimentada. Sabemos que é uma zona de confluências novas, entre moradores locais (mais envelhecidos), emigrantes e turistas. A quantidade de população em idade ativa e empregada que habita nesta  zona pode-se indicar, como uma hipótese de primeira análise, em número inferior às zonas circundantes da cidade. Assim, o movimento pendular típico do período da manhã não se verifica com tanta expressão na Mouraria. 

Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é IMG_8465-1024x683.jpg
À conversa com Nuno Franco, mediador cultural da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, no Largo da Rosa.

Subimos as Escadinhas da Rua das Farinhas para nos encontrarmos com o Sr. Nuno Franco, mediador cultural da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior. É ele quem garante o contacto próximo da Junta de Freguesia com os moradores da Mouraria. Conversámos com o Sr. Nuno no Largo da Rosa. O Sr. Nuno, muito entendido das transformações que o bairro tem vindo a sofrer, foi quem criou a associação Renovar a Mouraria há mais de 20 anos. Assim, soube-nos fazer uma radiografia longitudinal daquilo que foram e são os principais desafios do bairro. Questionei-o relativamente ao tão mediático assunto da insegurança, que alegadamente tem vindo a crescer na cidade de Lisboa. A resposta dele ficou-me na memória: 

“Há quanto tempo vens para a Mouraria com as tuas professoras?” 

“Desde fevereiro”, respondi eu. 

“Vens sozinha, acompanhada, ou neste grupo?”

“Sempre com este grupo.”

“Alguma vez te sentiste insegura?”

“Não.”

“Então tens aí a tua resposta.”

De facto, saí da conversa com a impressão de que aquilo que vejo representado nas notícias e aquilo que sinto quando vou à Mouraria, no âmbito desta U.I., não coincidem. 

Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é DCampo-1024x770.jpg
À entrada do pátio do Palácio da Rosa.

Seguimos para o Palácio da Rosa, que está em renovação. Será um hotel de luxo – projeto que o Sr. Nuno não condena. Sem estar planeado, entrámos no edifício em obras. O que encontrámos foi fascinante: não só as alvenarias e as cruzes de Santo André das paredes despidas como dezenas de resmas do jornal “A Batalha”, um periódico anarquista português. Os volumes eram, aproximadamente, de 1985 a 2005. 

Esta imagem tem um texto alternativo em branco, o nome da imagem é IMG_8505-1024x683.jpg
À conversa com Paulo Silveira e Sousa, investigador do CHAM NOVA FSCH, no pátio do HUB Criativo da Mouraria da CML.

Depois de dedicarmos algum tempo a explorar, com alguma cautela, o Palácio da Rosa, seguimos para o Hub Criativo da Mouraria, para uma conversa com o Doutor Paulo Silveira e Sousa, historiador e morador do bairro. Falou-nos da história do bairro e da cidade de Lisboa, especialmente através de literatura coeva, que fica abaixo mencionada (ordem cronológica):

– João de Azevedo de Sá Coutinho, O Céptico, 1848.

– João de Azevedo de Sá Coutinho, O Misantropo, 1852.

– Fialho de Almeida, «O Roubo», in A Cidade do Vício, 1882, p. 59 e segs.

– Fialho de Almeida, «O violinista Sérgio num café da Mouraria», in Os Gatos, vol. I, n.º 2, 1889, p. 9.

– Abel Botelho, O Barão de Lavos, 1891.

– Carlos Malheiro Dias, Filho das Ervas, 1900.

– Norberto de Araújo, Fado da Mouraria: romance de costumes populares, 1931.

– Fernando Lopes, «Belarmino» (Documentário), 1964.

– José Saramago, Pequenas Memórias, 2006.

Artigo da autoria de Maria Exposto, aluna da Licenciatura em História.