Exposição “Olhares sobre a Mouraria” no Hub Criativo da Mouraria

A 23 de maio foi inaugurada a exposição “Olhares sobre a Mouraria”, que apresenta os resultados do programa formativo interdisciplinar Erasmus+ BIP Miradas sobre la Ciudad, realizado na Mouraria em 2024 e 2025. A exposição prolonga-se até 20 de junho.

Este programa formativo e de investigação é promovido pelas universidades Universidade NOVA de Lisboa (NOVA FCSH), Universidad Politécnica de Madrid (UPM), Universidad Nacional de Educación a Distancia (UNED), Universidade Portucalense (UPT) e Università degli Studi di Firenze (UNIFI). Envolvendo estudantes e docentes de múltiplas nacionalidades e de áreas como arquitetura, antropologia, arqueologia, geografia, urbanismo, história, filosofia, entre outras, e com a participação de alunos de diversos departamentos e ciclos de estudo da NOVA FCSH, este projeto promove um olhar cruzado e crítico sobre os centros históricos na atualidade.

Iniciado em Madrid, em 2023, e preparando-se agora para ser implementado em Florença, em Itália, em 2025, o programa intensivo decorreu na Mouraria em 2024, sob coordenação da NOVA FCSH. Durante duas semanas de trabalho de campo, cinco largos do bairro foram objeto de estudo e ação, num exercício coletivo de diagnóstico e proposta. Sob o mote “Vida de Largo”, os participantes analisaram as camadas históricas, sociais e espaciais destes lugares e desenvolveram intervenções propositivas com foco na sustentabilidade urbana e na qualidade de vida das comunidades locais.

O período de campo foi antecedido e seguido por duas campanhas mais longas de trabalho académico, através da Unidade Curricular de Integração em Projeto de Investigação “Olhares sobre a Cidade”, oferecida pelo CHAM – Centro de Humanidades, onde estudantes de licenciatura e mestrado participaram e propuseram linhas de investigação e de ação alinhadas com as suas áreas disciplinares — da Museologia às Ciências Políticas.

Os resultados estão agora reunidos em seis posters temáticos que abordam temas como gentrificação, turismo, património, crise habitacional, diversidade cultural e marginalidade urbana. Acima de tudo, cada equipa articulou camadas históricas, dinâmicas atuais e visões de futuro para estes espaços urbanos, propondo ações concretas para melhorar a vida no bairro. A exposição, definida para ser itinerante, seguirá depois para outros espaços do bairro.

A exposição integra-se no 10.º aniversário do Hub Criativo da Mouraria, que foi parceiro ativo do projeto Olhares sobre a Cidade e serviu como base de apoio e de contacto no território desde o início do projeto. Os trabalhos apresentados são resultado direto desse diálogo entre investigação, pedagogia e território.

Mais informação sobre a exposição em:
https://www.hubcriativomouraria.pt/pt/atividades/hub-criativo-da-mouraria-10o-aniversario

Olhares Estratigráficos sobre a Mouraria: Exercício Prático de Arqueologia da Arquitectura na Igreja de São Lourenço / Palácio da Rosa

No segundo semestre de 2024/2025, os estudantes da unidade curricular Arqueologia da Arquitectura tiveram como caso de estudo prático as fachadas da Igreja de São Lourenço, situada no Largo da Rosa, na Mouraria.

O exercício, desenvolvido no âmbito da Licenciatura em Arqueologia da NOVA FCSH, procurou proporcionar um contacto direto com os métodos da arqueologia do edificado, combinando o levantamento técnico e fotogramétrico com a análise estratigráfica e a construção de narrativas históricas sobre o espaço construído.

O imóvel seleccionado, marcado por múltiplas intervenções desde a sua reconstrução pós terramoto de 1755 até à atualidade, revela-se um excelente exemplo da complexidade urbana e patrimonial de Lisboa. Entre rebocos, estelas reutilizadas, grafitis e camadas de tinta corretiva, os/as estudantes foram convidados a interpretar o edifício como um documento histórico vivo — onde se inscrevem fases de construção, abandono, resistência e transformação.

O trabalho de campo incluiu:

  • a leitura estratigráfica das alvenarias e rebocos,
  • a identificação de Unidades Estratigráficas Murais (UEM),
  • a elaboração de esquiços e desenhos técnicos,
  • o registo fotográfico e fotogramétrico,
  • a observação sensorial do espaço edificado,
  • e a construção da respetiva matriz de Harris.
Fotogrametria da fachada do Palácio da Rosa, junto à igreja de São Lourenço.
IgrejadeSaoLourenço_2425

A investigação permitiu não só identificar diferentes fases construtivas e simbólicas da fachada, como também refletir sobre os desafios contemporâneos do seu uso e valorização patrimonial num bairro em constante mutação. Embora limitado em tempo e recursos, o exercício culminou numa série de interpretações visuais e escritas que pretendemos agora partilhar com o público, como forma de contribuir para uma reflexão mais alargada sobre o património edificado da Mouraria.
Fica assim aqui um outro olhar possível sobre a Mouraria.

Artigo da autoria de Leonor Medeiros, professora da FCSH-NOVA.

Arqueologia-da-Arquitectura-Igreja-São-Lourenço

Diário de Campo, 05/06/2025

Este artigo reune e contextualiza as observações e entrevistas realizadas na saída de campo de 5 de junho de 2025, através de fotografias, tiradas no dia, dos estabelecimentos aos quais efetuámos o nosso questionário e relatos do nosso percurso, no âmbito do projeto Olhares Sobre A Cidade, mais precisamente no trabalho do grupo composto por Gonçalo Mourinha, Guilherme Teixeira e Simão Abreu.

Esta saída de campo efetuou-se entre as 13:30 e as 15:00 do dia, como já supramente mencionado, 5 de junho, uma quinta-feira, com a presença dos três elementos do grupo, Gonçalo, Guilherme e Simão. O percurso deste dia, como o dos anteriores dias de saídas de campo, seguiu várias ruas do Bairro da Mouraria, passando pelos largos do projeto (Rosa, Olarias, Achada, Severa e Trigueiros) e as ruas que os ligam, com vários estabelecimentos, sendo os locais mais propensos à vida social e coletiva das pessoas. Neste dia pretendíamos colmatar falhas das saídas anteriores, indo a estabelecimentos localizados em locais fulcrais, mas que ainda não tínhamos realizado as nossas entrevistas.

Durante o percurso efetuado pretendemos prosseguir com a investigação do nosso grupo, intitulada O Impacto dos Estabelecimentos Comerciais e de Serviços nas Relações Sociais e Culturais na Mouraria, que se propõe a estudar, na tentativa de compreender, se, e de que forma, os estabelecimentos comerciais e de serviços existentes no Bairro da Mouraria influenciam, contribuem ou interferem, de forma positiva ou negativa, nas relações sociais e no possível convívio entre os diferentes grupos populacionais que ali residem ou circulam diariamente. A partir dos dados recolhidos, pretende-se ainda explorar questões complementares, nomeadamente em que medida os grupos imigrantes estão, ou não, integrados na vida quotidiana, na cultura e nos costumes do bairro.

Lista de perguntas do questionário

1. Nome do estabelecimento

2. Tipo de estabelecimento

3. Há quanto tempo está em funcionamento?

4. Há quanto tempo trabalha no estabelecimento?

5. Em geral, qual é a origem dos seus clientes? (possível de ser assinalado mais do que uma)

6. O perfil dos seus clientes muda conforme o dia ou horário?

6.(2) Se sim, como?

7. Os seus clientes vêm sozinhos ou em grupo?

8. Que espaço do seu estabelecimento é mais utilizado? (Possível não ser aplicado a pergunta)

9. Observa interação entre diferentes grupos culturais ou étnicos no seu estabelecimento?

10. Já presenciou situações de convívio entre diferentes grupos?

10. (2) Se sim, como?

11. Já presenciou situações de conflito ou tensão entre diferentes grupos?

11. (2) Se sim como?

12. Já sentiu necessidade de adaptar o seu serviço (menu, atendimento, horários) para atender a diferentes públicos? 

12. (2) Se sim, como?

13. Acha que o seu estabelecimento contribui para o convívio entre diferentes grupos do bairro?

13.(2) Se sim, como?

Apresenta-se, de seguida, a lista dos estabelecimentos comerciais e de serviços inquiridos pelo nosso grupo durante a saída de campo. Os estabelecimentos estão elencados por ordem cronológica, correspondendo ao percurso efetuado pelo grupo.

Tal como já havia ocorrido nas saídas de campo anteriores, também neste dia registámos casos de estabelecimentos que optaram por não responder ao nosso inquérito. Tendo em conta as experiências passadas, esta possibilidade já era por nós antecipada, o que influenciou a forma como abordámos os diferentes espaços. Ainda assim, voltámos a encontrar resistência por parte de alguns comerciantes ou funcionários, facto que consideramos relevante não apenas enquanto limitação empírica do nosso trabalho, mas também como dado sociologicamente significativo.

Importante notar o elevado interesse, aquando estávamos a realizar o questionário no estabelecimento Flor Do Terreirinho, de um senhor imigrante, originário do Leste Europeu, mas já morador no bairro há largos anos. Este senhor abordou-nos, questionando qual era o nosso trabalho e mostrando bastante interesse na nossa investigação e no projeto da UC no geral, pedindo até o site do projeto para poder ler mais sobre o mesmo. Durante a conversa referiu que sente preconceito e estigmatização da população de fora do bairro para com o Bairro da Mouraria e deixou também algumas notas de problemas que sentia no bairro e gostava de ver melhorados: a falta de esplanadas, bancos de rua e espaços verdes, a presença de muitos homens mas poucas mulheres na rua, entre outros.

Importa também referir que, aquando da realização desta saída de campo, foi possível notar que o Bairro da Mouraria encontrava-se já decorado e em época de Santos Populares. Este contexto festivo poderá ter um impacto relevante nas dinâmicas sociais e interculturais do bairro, incentivando a permanência no espaço público, promovendo momentos de convívio e, potencialmente, facilitando interações entre os diferentes grupos da população.

Artigo da autoria de Gonçalo Mourinha, aluno da Licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais.

Diário de Campo, 02/05/2025

Começámos o trabalho de campo por volta das 11h do dia 2 de maio, com o objetivo de perceber se os vários espaços comercias da confusão urbanística da mouraria ajudavam as várias comunidades do bairro a encontrarem-se.

.Uma imagem com nuvem, edifício, céu, ar livre

Descrição gerada automaticamente

Encontrámo-nos no Hub Criativo da Mouraria e de lá saímos com a ideia de fazer um questionário aos vários estabelecimentos que circundam os largos da Mouraria. Enquanto aguaceiros ainda caíam, aproveitámos para tomar café na pastelaria dos Lagares. Lá encontrámos um ambiente acolhedor, com dois irmãos que há 26 anos abriram o estabelecimento e nunca mais de lá arredaram pé. Enquanto bebíamos a bica, o carteiro entrou, espalhou o monte de cartas que tinha na mão e entregou diretamente a correspondência a um senhor de idade que lá estava. O dono respondeu amigavelmente ao nosso inquérito, enquanto ao mesmo tempo fazia duas torradas, devido ao número de clientes.

De lá seguimos em direção ao Largo do Severa. Vimos uma loja de souvenirs e minimercado e tentámos fazer o questionário. Porém, logo que falámos sobre um trabalho da faculdade, a cara do senhor que estava atrás do balcão congelou e só repetia um “no” em tom assustado. O facto de várias reportagens terem sido feitas sobre lojas deste género nos últimos dias terá, certamente, provocado mais desconfiança nas comunidades sul-asiáticas. 

Passámos por um ateliê em que a empregada, de maneira simpática, nos respondeu ao inquérito, referindo que vive dos turistas que lá passam e que até a oferta de produtos foi ajustada às suas preferências — como passar a vender produtos de tamanho mais reduzido, como pequenas peças de cerâmica, para agradar aos turistas.

Bella Bites, Restaurante de inspiração Italiana. Em que o empregado rapidamente chamou o "Boss" quando ouviu perguntas

Ainda tentámos a nossa sorte numa pizzaria, mas o empregado logo nos mandou falar com o “boss”. Este, que estava na loja de souvenirs ao lado, logo inventou uma desculpa e saiu com ar desconfiado. Novamente, ambos de origens sul-asiáticas demonstravam receio em responder ao que quer que fosse. Decidimos entrar no Largo as Severa e aí, finalmente, uma loja de souvenirs lá nos respondeu com poucas palavras, mas sem qualquer problema.

Porém, o ponto alto foi, sem dúvida, o almoço. Fomos ao Café Parreirinha um tasco que se localiza à entrada do Largo da severa. Lá, o empregado não hesitou em chamar-nos para entrar. O espaço era pequeno, não acomodava mais do que 20 pessoas. Com um balcão, duas ou três mesas, e o resto da sala acomodava a fritadeira e o local onde se temperava e preparava comida. Na esplanada, com a maior parte das mesas, ainda havia o grelhador — o elemento essencial.

O homem geria a conversa com as várias mesas, os pedidos e ainda a grelha. Surpreendeu-nos quando falou um francês exemplar e mudou rapidamente para um italiano aceitável. Tirando nós e um casal italiano, eram apenas clientes habituais. Os moradores, percebendo que não éramos estrangeiros, conversaram connosco, falando da sua vida e do que é ser do bairro. Disseram que todos podiam ser da Mouraria — bastava lá passarem o tempo. Falaram das comunidades sul-asiáticas como uma ilha na Mouraria, ao contrário de africanos, chineses e muçulmanos, que, demorando mais ou menos tempo, lá se integravam no bairro.

Os novos habitantes da Mouraria pareciam não ceder. “Nem celebram os Santos”, disse um deles — algo fulcral na identidade do bairro. A religião não era um problema, mas a falta de interesse nas festas e em ser parte ativa do bairro. A única exceção parecia ser um minimercado de uma tal Toni — o único membro desta nova vaga da Mouraria que estava perfeitamente integrado. Dona de um minimercado no coração da Mouraria. “O Toni já é português” — foi dito não como um mero ato admirativo, mas afirmando o espírito da Mouraria.

Depois de comermos o doce de abade que o empregado tão bem nos vendeu, fomos carinhosamente pedidos a sair, pois um grupo de pessoas chegava e o estabelecimento não tinha mais espaço para tanta gente. Pagámos e prometemos voltar, e um dos nossos novos amigos lá nos segredou que, se viermos mais vezes, começamos a pagar o preço de morador, que eles têm direito. Devido ao horário apertado, tivemos de acabar o trabalho por volta das 15h.

Artigo da autoria de Guilherme Teixeira, aluno da Licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais.

Diário de Campo, 18/04/2025

O pretendido durante o tempo de observação na saída de campo de 18 de abril de 2025, sexta-feira, entre as 17:30 e as 19:15, foi o de encontrar indivíduos em momentos de  convívio nos espaços públicos, como largos, ruas, bancos, e espaços privados que se destinam ao convívio, como cafés, bares, entre outros. O objetivo destas observações é compreender em que tipo de espaços as diferentes populações, que são parte do bairro da Mouraria, o utilizam, e mais tarde tentar  compreender o porquê das diferenças encontradas.

O percurso seguiu várias ruas do bairro lisboeta, passando por largos e ruas com vários cafés e lojas, sendo mais propensas à vida social e coletiva das  pessoas que vivem no bairro, ou que por ele passam. É importante notar que o dia em questão era feriado (Sexta-feira Santa) e que se encontrava em período de férias escolares. 

Mapa do percurso com a marcação dos pontos fotografados.

Com esta observação, podemos começar a compreender melhor o tipo de utilização dos espaços mais utilizados para convívio nos espaços públicos da Mouraria. Utilizando a amostra, que apenas corresponde a uma altura do dia e a um dia específicos, conseguimos identificar alguns padrões entre  os grupos populacionais existentes no bairro.  

Primeiro, que é clara a existência de 3 grupos populacionais distintos, e que têm entre si muito poucas  interações sociais de convívio. Esses 3 grupos são identificados e caracterizados como: turistas de  diferentes nacionalidades; pessoas portuguesas; pessoas sul-asiáticas. Foi possível encontrar uma grande concentração de turistas na Rua e no Largo de S. Cristóvão, onde  utilizavam os equipamentos públicos (bancos). Observou-se ainda uma grande concentração de turistas  de nacionalidade não portuguesa no “Union Empanadas”, para além disso, o estabelecimento  “Catedrais Tapas Bar”, imediatamente ao lado do primeiro, estava frequentado, no exterior, apenas por portugueses, contrastando de forma muito clara as duas populações. Foi ainda interessante encontrar  um grupo de turistas na “Leitaria Brilhante”, por ser um espaço mais tradicionalmente português.

Os portugueses, residentes, ou não, observados na Mouraria, encontravam-se principalmente a conviver em cafés, em grupos apenas constituídos por portugueses. Observamos que se concentravam em cafés mais “tradicionais” e que utilizavam as suas mesas, consumindo nos mesmos. 

Os grupos e indivíduos sul-asiáticos que observamos encontravam-se a conviver em dois tipos de  espaços. Ou em minimercados, muitas vezes associados como sendo propriedade deste grupo de sujeitos, como o “Ali Minimercado & Doner Kebab House”, ou em espaços abertos, muitas vezes estando de pé. Estes sujeitos não foram observados em cafés nem estabelecimentos, seja a consumir ou apenas sentados. 

Com isto, pretendemos continuar a observar os espaços públicos de convívio da Mouraria, de modo a  compreender como as populações interagem e convivem entre si. Devem ser efetuadas observações  em horários e dias da semana diferentes, para conseguir obter uma imagem mais abrangente da situação em estudo. Para além disto, iremos realizar inquéritos aos proprietários e funcionários dos cafés e estabelecimentos do Bairro da Mouraria de forma a compreender mais aprofundadamente a sua  utilização.

Iremos ainda realizar os inquéritos anteriormente propostos a pessoas que trabalhem em  associações culturais e recreativas na Mouraria, de forma a compreender como são frequentadas as atividades que realizam e se tentam promover, de forma ativa, a interação entre os diferentes grupos sociais de existem no bairro, durante a observação conseguimos falar com uma pessoa  pertencente à “Casa da Achada – Centro Mário Dionísio”, e com quem iremos ter mais contacto futuro.

Artigo da autoria de Simão Abreu, aluno da Licenciatura em Ciência Política e Relações Internacionais.

Diário de Campo, 11/04/2025

Iniciámos o nosso percurso nas escadinhas de São Cristóvão, na Rua da Madalena. Considero que esta aula em campo foi extremamente produtiva. Percorremos, grosso modo, o mesmo percurso das últimas saídas, começando pelo Largo dos Trigueiros. Observamos um grupo de turistas, maioritariamente homens, brancos, anglófonos, com idades compreendidas, aparentemente, entre os 20 e os 40 anos. 

É de notar que, de manhã, a Mouraria está menos movimentada. Sabemos que é uma zona de confluências novas, entre moradores locais (mais envelhecidos), emigrantes e turistas. A quantidade de população em idade ativa e empregada que habita nesta  zona pode-se indicar, como uma hipótese de primeira análise, em número inferior às zonas circundantes da cidade. Assim, o movimento pendular típico do período da manhã não se verifica com tanta expressão na Mouraria. 

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À conversa com Nuno Franco, mediador cultural da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, no Largo da Rosa.

Subimos as Escadinhas da Rua das Farinhas para nos encontrarmos com o Sr. Nuno Franco, mediador cultural da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior. É ele quem garante o contacto próximo da Junta de Freguesia com os moradores da Mouraria. Conversámos com o Sr. Nuno no Largo da Rosa. O Sr. Nuno, muito entendido das transformações que o bairro tem vindo a sofrer, foi quem criou a associação Renovar a Mouraria há mais de 20 anos. Assim, soube-nos fazer uma radiografia longitudinal daquilo que foram e são os principais desafios do bairro. Questionei-o relativamente ao tão mediático assunto da insegurança, que alegadamente tem vindo a crescer na cidade de Lisboa. A resposta dele ficou-me na memória: 

“Há quanto tempo vens para a Mouraria com as tuas professoras?” 

“Desde fevereiro”, respondi eu. 

“Vens sozinha, acompanhada, ou neste grupo?”

“Sempre com este grupo.”

“Alguma vez te sentiste insegura?”

“Não.”

“Então tens aí a tua resposta.”

De facto, saí da conversa com a impressão de que aquilo que vejo representado nas notícias e aquilo que sinto quando vou à Mouraria, no âmbito desta U.I., não coincidem. 

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À entrada do pátio do Palácio da Rosa.

Seguimos para o Palácio da Rosa, que está em renovação. Será um hotel de luxo – projeto que o Sr. Nuno não condena. Sem estar planeado, entrámos no edifício em obras. O que encontrámos foi fascinante: não só as alvenarias e as cruzes de Santo André das paredes despidas como dezenas de resmas do jornal “A Batalha”, um periódico anarquista português. Os volumes eram, aproximadamente, de 1985 a 2005. 

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À conversa com Paulo Silveira e Sousa, investigador do CHAM NOVA FSCH, no pátio do HUB Criativo da Mouraria da CML.

Depois de dedicarmos algum tempo a explorar, com alguma cautela, o Palácio da Rosa, seguimos para o Hub Criativo da Mouraria, para uma conversa com o Doutor Paulo Silveira e Sousa, historiador e morador do bairro. Falou-nos da história do bairro e da cidade de Lisboa, especialmente através de literatura coeva, que fica abaixo mencionada (ordem cronológica):

– João de Azevedo de Sá Coutinho, O Céptico, 1848.

– João de Azevedo de Sá Coutinho, O Misantropo, 1852.

– Fialho de Almeida, «O Roubo», in A Cidade do Vício, 1882, p. 59 e segs.

– Fialho de Almeida, «O violinista Sérgio num café da Mouraria», in Os Gatos, vol. I, n.º 2, 1889, p. 9.

– Abel Botelho, O Barão de Lavos, 1891.

– Carlos Malheiro Dias, Filho das Ervas, 1900.

– Norberto de Araújo, Fado da Mouraria: romance de costumes populares, 1931.

– Fernando Lopes, «Belarmino» (Documentário), 1964.

– José Saramago, Pequenas Memórias, 2006.

Artigo da autoria de Maria Exposto, aluna da Licenciatura em História.

Diário de Campo, 25/03/2025

Neste dia realizamos pela primeira vez o percurso completo dos Largos da Mouraria. Este post do diário de campo centra-se na perspetiva de análise da Arte Urbana presente no território. Com esta observação pretendo criar um roteiro de arte urbana na Mouraria e estudar a relação da população (local e turistas) com os temas representados nas paredes. 

Começámos o percurso pelo Largo dos Trigueiros, onde as paredes estão bastante decoradas, não apenas com pinturas que parecem obedecer a um projeto específico (pela sua organização), como pelos anúncios dos cafés ou pela exposição “Um tributo” de C. Watson que visa destacar as residentes do território. Há ainda, no centro do largo, uma árvore coberta com crochê, que se encontra num mau estado de conservação.

Continuámos em direção ao Largo da Achada onde existe um grande grafiti contra o turismo e foi o único onde encontrei pinturas nas paredes que não fossem grafitis organizados. Na sequência do largo (à frente à Casa da Achada) há uma zona vedada com uma das paredes pintada (também aparentemente pensado), há ainda uma zona não vedada onde mais uma vez se encontram expressões espontâneas. 

Seguimos caminho para o Largo da Rosa. Este largo apresenta uma pintura grande que alude aos 16 anos da associação renovar a Mouraria. Parte do largo tem ainda uma referência artística à rede de compostagem comunitária da Mouraria com uma pequena “exposição” e uma explicação do projeto. O penúltimo largo por onde circulamos, foi o Largo das Olarias, onde não se encontram manifestações de arte urbana. 

Acabámos a nossa visita no Largo da Severa, que também era pouco movimentado, mas que tinha bastantes intervenções artísticas. No caminho de entrada tem um painel alusivo ao fado. Dentro do largo há pequenos desenhos estampados nas paredes e quadras alusivas aos Santos Populares. 

Nas ruas entre os largos, encontrámos um mural pintado anónimo (também projetado/pensado), uma pintura de moral da autoria de Inês Almeida Matos (@out.iam), várias caixas de eletricidade pintadas por Manoel Quiterio e algumas palavras escritas sem pinturas associadas. 

Artigo da autoria de Catarina Monteiro, aluna da Licenciatura em História.

“Olhares sobre a cidade” 2025

“Olhares sobre a cidade”, uma unidade curricular optativa da NOVA FCSH, arrancou mais uma vez neste mês de Fevereiro de 2025. Coordenada por Leonor Medeiros e Mafalda Pacheco, tem o apoio do HUB Criativo da Mouraria da Câmara Municipal de Lisboa para a realização das actividades que estão alinhadas com o programa Erasmus + BIP “Miradas sobre la Ciudad”, a decorrer em Florença no mês de Julho.

Nas próximas semanas a equipa de alunos e professores andarão pela Mouraria a estudar ruas e largos através de diferentes pontos de vista e áreas científicas – arqueologia, arquitectura, história e ciência política e relações internacionais.

Os artigos semanais realizados pelos alunos darão conta dos temas que serão abordados.

“Miradas” em Lisboa chega ao fim

Grupo das “Miradas” no Centro de Inovação da Mouraria.

Terminámos as 2 semanas intensivas de aprendizagem, trabalho e convívio que decorreram este ano na Mouraria, em Lisboa, entre 1 e 14 de Julho de 2024. Um grupo de cerca de 40 alunos e professores de universidades de Espanha, Itália e Portugal, unidos em torno do objectivo comum de olhar interdisciplinarmente este território e oferecer propostas pertinentes para a vida dos seus largos. 

São Olhares/Miradas multiculturais e internacionais, mas também multidisciplinares, desde a arqueologia, a antropologia, a arquitectura, o urbanismo, a geografia, a filosofia, a engenharia civil e a museologia. Nesta abordagem interdisciplinar olhámos para um território ainda mais diverso e multicultural, visitámos sítios e instituições, conversámos com pessoas da comunidade, e pensámos como tornar este bairro melhor para quem aqui vive.
Essa experiência não teria sido possível sem o apoio de toda a comunidade da Mouraria e de vários parceiros.

Deixamos assim aqui os nossos agradecimentos: 

Aos Professores Coordenadores deste Erasmus+BIP: Leonor Medeiros, Mafalda Pacheco, Matteo Puttilli, Mónica Alcindor, Panagiotis Bourlessas, Sonia De Gregorio Hurtado, Waltraud Müllauer-Seichter e Francisco Jose Morales Yago.

Aos Professores Convidados e Conferencistas: Roberto Goycoolea, Iñigo Sánchez-Fuarros, Marluci Menezes, Patrícia Santos Pedrosa, Paz Núñez, Rui Florentino, Patrícia Melo e Bruno Maltez.

Aos alunos, Joana Semedo, Alyson Almeida de Oliveira, Matilde Santa Clara Mendes Pinto, Diogo Sebastião, José Antonio Ávila Blanco, Esther Sanz López-Argumedo, Estefanía Valencia Vences, Francisco Almansa Ruiz, Lara Montejo García, Erhimo Mohamed Mohamed, Laura Hervás Morte, Inés Lorenzo Fernández, Itziar Abril Gil, Pablo Gómez Arenas, Tsu An Lee, Alun Sagara Putra, Anugrah Dipti Hemrom, Maria Teresa Mazzotta, Margarita Li, Niccolò Caroti, Dario Arroyo Estrela, Adrián Artero González, Luis Gerardo Cárdenas, Raúl Lacruz Rodríguez, Álvaro Herrera Fernández, Natalia Hinojosa Casado, África Lahulla Guerra, Amalia T. López Hernández, Lucía Torres Huamántica, e Alicia Ubierna Cid.

Ao programa Erasmus+ e às Universidade NOVA de Lisboa, Universidad Nacional Educación a Distancia, Universidad Politécnica de Madrid, Universidade Portucalense Infante D. Henrique, e Università degli Studi di Firenze.

A quem nos recebeu para conferências, visitas e outras experiências que fazem parte da missão Erasmus: NOVA City Lab, Museu de Lisboa – Museu do Teatro Romano, Ordem dos Arquitectos, Arquivo Histórico Municipal de Lisboa – Arquivo Fotográfico, Casa da Achada, Associação Portuguesa de Arqueologia Industrial, Casa Museu Fernando Maurício, e Cozinha Popular da Mouraria. 

E um agradecimento muito especial aos parceiros no terreno, sem os quais esta experiência não teria sido possível: à Associação Renovar a Mouraria (em especial à Filipa Bolotinha), à CM de Lisboa e Junta de Freguesia de Santa Maria Maior (em especial ao Nuno Franco) e à nossa segunda casa ao longo deste projecto, o Centro de Inovação da Mouraria (em especial à Maria do Rosário e toda a equipa).

Miradas sobre la ciudad #10

11/07/2024

Neste dia, os alunos estiveram a finalizar as apresentações, que se realizaram às 16 horas, no Centro de Inovação da Mouraria. Os cinco grupos apresentaram, ao longo de quinze minutos, os largos trabalhados, através de uma descrição do espaço, assim como de um breve contexto histórico do mesmo. De seguida, partilharam um resumo das características que compõem o largo, abordando as suas mais-valias ou vantagens e fraquezas/ameaças. Por fim, como solicitado no início do projecto, os vários grupos apresentaram as suas propostas e soluções de combate aos problemas identificados. Foram referidas soluções de carácter mais ou menos interventivo, que pretendiam (ou não) fomentar o dinamismo nos espaços. 

A abordagem interdisciplinar do projecto resultou em propostas bastante diversificadas devido à metodologia utilizada e aos diferentes contextos e referências dos alunos. Desde soluções que utilizavam como recurso a arquitectura, à análise antropológica e à metodologia historiográfica ou geográfica, todos os contributos distintos fomentaram um diálogo rico assente no cruzamento entre áreas.

Durante as apresentações, estiveram presentes profissionais do Centro de Inovação da Mouraria e também da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior.

Às apresentações seguiu-se um momento de convívio que contou com a participação da Union Portugal e das suas empanadas que proporcionaram um fim de tarde muito bem passado entre toda a equipa.