Levantamento dos equipamentos culturais e patrimoniais da Mouraria

Equipamentos culturais mapeados no Google Maps.

https://www.google.com/maps/d/embed?mid=1HPX9E5GRoVmF12q62CxnwgvjRwxFp6E&ehbc=2E312F

Apresentamos um levantamento de equipamentos e edifícios de interesse patrimonial, património religioso (capelas e igrejas), equipamentos culturais, centros culturais, intervenções de arte urbana e largos do bairro, no território da Mouraria. O mapeamento tem como principal objectivo o de facilitar a visualização da oferta cultural do bairro, que nos permitiu compreender que existe, na Mouraria, a ausência de um museu que se encontre
actualmente aberto ao público e que invoque noções representativas e identitárias do
bairro.

Por Joana Semedo, aluna do Mestrado em Museologia.

“Mouraria” playlist

O legado do Fado na Mouraria.

Para acompanhar o trabalho de campo do grupo de alunos que integram o “Erasmus+ BIP – Miradas sobre la Ciudad”, compilámos alguns exemplos de cultura musical lisboeta e portuguesa. Pretendemos que seja uma lista de músicas que remeta para os temas da “Miradas sobre la ciudad”, da cidade contemporânea, com as narrativas que a acompanham, e com o bairro da Mouraria.

Por Joana Semedo, aluna do Mestrado em Museologia

Playlist de músicas relacionadas com o bairro da Mouraria.

Mapeando o passado com SIG: Cartografia histórica da Mouraria nos séculos XVIII e XIX

A cidade é um organismo vivo e em constante transformação, que reflete mudanças sociais, econômicas e culturais ao longo do tempo. Pensar a cidade, especialmente bairros históricos como a Mouraria, em Lisboa, requer necessariamente compreensão de sua evolução. A análise da cartografia histórica torna-se uma ferramenta indispensável nesse processo, revelando a natureza das dinâmicas paisagísticas urbanas. Há casos em que determinados traços urbanos persistem mesmo após séculos, demonstrando tendências de resistência arquitetônica, e noutros, há momentos disruptivos que rompem completamente uma lógica urbana anterior. Esses fenômenos são apenas alguns dos marcos mais visíveis, que pontuam a vida intensa de um núcleo urbano.

As cidades, como centros de convivência humana, acumulam camadas de história que se sobrepõem e interagem. Compreender essas camadas é crucial para planejar o futuro de maneira informada e sensível ao patrimônio cultural. Pensar a cidade ao longo do tempo não é apenas um exercício acadêmico, mas uma necessidade prática para a preservação da identidade urbana e para a criação de espaços que respeitem suas origens enquanto atendem às demandas contemporâneas. A Mouraria, um dos bairros mais antigos de Lisboa, objeto de estudo do projeto, é enxergada aqui como um microcosmo das dinâmicas urbanas de longa duração. Fundada há séculos, o bairro tem sido palco de inúmeras transformações, desde suas origens como reduto mouro até seu papel atual como um vibrante centro multicultural. Cada fase de sua história deixou marcas indeléveis em sua estrutura urbana, muitas das quais são documentadas em cartas cartográficas ao longo dos séculos.

A análise de cartas históricas da Mouraria, como as de João Nunes Tinoco (1650), Carlos Mardel (1756), a Planta Topográfica de 1780, de Duque Wellington (1812), e outras do século XIX, oferece uma visão detalhada de sua evolução. Essas cartas não são meramente registros gráficos; são narrativas visuais que contam a história do desenvolvimento urbano, das mudanças infraestruturais e das adaptações sociais e econômicas. Ao estudar essas cartas, é possível identificar elementos urbanos que persistem ao longo dos séculos. Por exemplo, certos traçados viários e estruturas principais permanecem reconhecíveis, mostrando uma continuidade que resiste às mudanças superficiais. Esses traços persistentes são fundamentais para a identidade do bairro, proporcionando um senso de continuidade e pertencimento para seus moradores. Por outro lado, as transformações documentadas nas cartas revelam as adaptações necessárias para responder às novas necessidades. A reconstrução após o terramoto de 1755, as modernizações infraestruturais do século XIX, e outras intervenções refletem a capacidade da cidade de se reinventar, mantendo-se funcional e relevante para seus habitantes.

 

A análise da cartografia histórica da Mouraria não é apenas um olhar para o passado, mas uma ferramenta para planejar o futuro. Entender as raízes e os traços persistentes da cidade permite uma abordagem mais informada e respeitosa no desenvolvimento urbano. Preservar esses elementos enquanto se adapta às necessidades contemporâneas é um desafio que exige sensibilidade e visão estratégica. Pensar a cidade ao longo do tempo, especialmente em contextos históricos como o da Mouraria, é essencial para a preservação de sua identidade e para o planejamento urbano sustentável. A cartografia histórica oferece uma janela para o passado, revelando tanto a continuidade quanto a transformação que moldam o tecido urbano. Ao compreender a integração dessas análises no planejamento urbano, podemos criar cidades que honrem suas histórias enquanto abraçam o futuro, respeitando as formas de ser e estar daqueles que vivem e daqueles que sedimentaram esses espaços.

Por Raphael Corrêa, aluno da Licenciatura em Arqueologia.

Diário de Campo, 6/05/2024

Mapa do percurso realizado no bairro da Mouraria.

O objectivo do percurso foi o de fazer uma prospecção aos largos que serão estudados no Erasmus+. Seguem algumas observações:

Largo da Rosa (1º do percurso): Pequenas dimensões, relativamente calmo mas movimento basicamente turístico, barulho de obra, visibilidade reduzida ao próprio largo e seu envolto; na hora que visitámos havia poucas pessoas não-turistas, mas em geral, a percepção que se tem é que ali acaba por ser um refúgio ao sol e um respiro entre escadarias, ou seja, não parece ser um local turístico por si, mas o fluxo é turístico, num esquema de local de passagem e descanso.

Largo dos Trigueiros (2º): é uma laje entre escadarias abraçada pela restauração; movimento turístico e de consumo, barulhento, visibilidade ao largo e envolto, mas também com vista mais aberta na descida pela escadaria; compreende uma fonte desativada.

Largo de São Cristóvão (3º): muito fluxo de turistas, tanto como local de passagem, como de permanência/descanso, dado o comércio e restauração claramente voltados a esse público; largo menos “recintado” (mais aberto e mais “privilegiador” de fluxo contínuo), inclusive com fluxo de carros; bastante barulhento; tem a igreja como grande elemento de referência, mas também o palácio.

Largo da Achada (4º): vazio, declive desconfortável, não tem grandes zonas de sombra; acaba por ser uma grande escadaria/laje pouco centralizadora, digamos assim.

Todos os largos têm placas do circuito interpretativo histórico. Têm potencialidade enquanto objetos de estudo no âmbito do Erasmus+ e encontram-se próximos uns dos outros.

Por Raphael Corrêa, aluno da Licenciatura em Arqueologia.

Diário de Campo, 20/05/2024

Mapa do percurso realizado no bairro da Mouraria.

O nosso percurso começou por volta das 15:30 quando saímos do CIM na Travessa dos Lagares com o objetivo de explorarmos novos largos e visitarmos os largos já conhecidos pela Mouraria. Após sairmos do CIM seguimos pela Rua dos Lagares onde observámos obras a serem realizadas pela rua e num dos prédios desta rua, descemos pelo Largo das Olarias onde analisámos o potencial deste largo para ser trabalhado neste projeto.

Descendo este largo existe um pequeno parque espaçoso onde estão instalados três aparelhos para a realização de exercício físico ao lado de um complexo de apartamentos privados, exemplificando a diferença de habitação neste bairro. Indo em direção ao Largo do Terreirinho existe uma pequena rua paralela no Largo das Olarias onde é possível observar uma cruz pintada numa parede, sendo esta particularidade importante porque neste local foi encontrado um cemitério.

Chegando ao Largo do Terreirinho seguimos em direção à rua Marquês Ponte de Lima fomos até ao Beco da Amendoeira onde observámos o pequeno largo que existe nesta zona e as suas possibilidades de ser explorado neste projeto. Após a visita ao Beco da Amendoeira seguimos a rua Marquês Ponte de Lima até chegarmos ao Largo da Rosa. Este é um largo bastante espaçoso e organizado onde nos Santos Populares são realizados arraiais.

Após a visita a este largo seguimos a Rua das Farinhas até chegarmos ao Largo das Gralhas, um pequeno largo na direção de um outro largo o Largo da Achada sendo este maior e mais espaçoso com um espaço amplo e uma fonte no meio de umas pequenas escadas circulares. Após esta visita seguimos pela rua da Achada até chegarmos ao Largo de São Cristóvão. Descemos as escadas que ligam o largo à Travessa da Madalena até chegarmos à Rua da Madalena por onde seguimos até à Rua do Arco do Marquês de Alegrete.

Ao seguirmos esta rua passamos pela Igreja da Nossa Senhora da Saúde e pelo Centro Comercial da Mouraria tendo depois seguido pela Rua do Capelão em direção ao Largo da Severa. Neste caminho seguimos pela Rua João do Outeiro onde existe um largo com grande potencial de ser trabalhado uma vez que tem grandes escadas a fazer uma espécie de bancada e árvores a proporcionarem sombra nesta zona. Seguimos pelo Beco do Jardim e chegámos ao Largo da Severa, um largo bastante conhecido pela população local e onde se localiza a antiga casa de Maria Severa.

Após a visita a estes vários Largos na Mouraria seguimos de volta para o CIM fazendo o trajeto pela Rua da Guia seguindo o Largo do Terreirinho tendo depois subido a Travessa dos Lagares até retornarmos ao nosso ponto de partida. Neste percurso fomos acompanhados pelo fotógrafo da NOVA FCSH Luís Reis, que nos ajudou a fotografar os diferentes pontos do nosso percurso.

Texto de Diogo Sebastião, aluno do Mestrado em Arqueologia. Fotografias da autoria de Luís Reis.

Explorando as realidades da Mouraria com auxílio do SIG

Com o apoio de um Sistema de Informação Geográfica (SIG) próprio do projeto, conseguimos alcançar uma percepção mais aprofundada do espaço estudado, permitindo novas leituras e interpretações. Iniciamos pela delimitação deste espaço, reconhecendo as fronteiras da zona da Mouraria, para depois acrescentar uma série de camadas que transmitem aspectos importantes aos tópicos de estudo.

Planta cartográfica do Bairro da Mouraria com a marcação dos limites geográficos.

Grande parte do material de suporte foi, e ainda será, implantado no SIG, de modo a proporcionar uma visão abrangente do espaço, facilitando a conexão entre os diversos levantamentos. Objetos essenciais a questões básicas do território, como a delimitação de largos, praças e espaços centrais, foram inseridos. Esses espaços serão posteriormente estudados por grupos de investigação no contexto da participação Erasmus+, tornando essencial a representação precisa das noções previamente estudadas para a continuidade do projeto.

Entre as camadas temáticas destacam-se as cartografias históricas, que, uma vez georreferenciadas, revelam a evolução espacial ao longo do tempo. O SIG do projeto, ainda em desenvolvimento, inclui levantamentos de cartografias históricas dos séculos XVIII e XIX. Embora variem em detalhe, essas cartografias, em conjunto, oferecem uma visão abrangente das transformações da área estudada. Pretende-se, ao longo das pesquisas, compreender melhor essas tendências transformativas, especialmente em relação aos traçados urbanos que persistem desde esses séculos.

Outras frentes investigativas, que abordam problemáticas latentes da região, também podem beneficiar do suporte da base cartográfica. Levantamentos, como o da densidade de Alojamentos Locais, ainda que pouco aprofundados até o momento, já foram inseridos no SIG.

Localização dos alojamentos locais em Lisboa.

Dessa forma, o SIG se mostra mais que uma ferramenta de agregação de dados territoriais, atuando como uma plataforma para pesquisa, reflexão e visualização. É um meio propício para estabelecer relações entre universos de dados complexos e para retratar as problemáticas estudadas pelo projeto de maneira eficaz e integrada.

Por Raphael Corrêa, aluno da Licenciatura em Arqueologia.

Mouraria na Maquete de Lisboa antes de 1755

Bairro da Mouraria na Maquete de Lisboa antes de 1755, patente no Museu de Lisboa – Palácio Pimenta.

Ao longo dos séculos, a Mouraria apresentou diferentes configurações, passando por diversos processos de evolução tanto ao nível urbanístico e arquitectónico, como cultural e socialmente. O terramoto de 1755 marcou um dos períodos de maior transformação da cidade devido à destruição causada e também ao planeamento urbano pombalino delineado após o mesmo.

Na emblemática Maquete de Lisboa antes de 1755, idealizada pelo historiador e olisipógrafo, Gustavo de Matos Sequeira, que se encontra no Palácio Pimenta (Museu de Lisboa), podemos encontrar ilustrada a Mouraria anterior ao Terramoto. Esta maquete foi realizada em duas fases, entre 1945 e 1959, por Ticiano Violante e Martins Barata, tendo sido exposta em 1982 no espaço onde ainda hoje se encontra e corresponde, não apenas a um importante documento que nos permite compreender a cidade anterior a 1755, mas também a um testemunho histórico dos estudos olisiponenses que se estavam a desenvolver no período da realização da maquete. 

Apesar de não cumprir uma exatidão completamente rigorosa, nesta concepção daquilo que seria a Lisboa desse período, é interessante observar a Mouraria neste contexto pré-terramoto e procurar compreender o que o caracterizava à altura e também o que persiste no bairro actualmente. Verifica-se então um alargamento das ruas, necessários para permitir melhores condições de acesso e circulação, assim como uma nova organização da malha urbana, que se projectou com maior uniformidade em relação ao anterior ordenamento. 

Olhando para a encosta do Castelo de São Jorge, será relevante ressaltar a ausência de edificações ao seu redor, em contraste com a restante malha que constitui o bairro, atribuindo um maior destaque à estrutura arquitectónica militar que se desenvolve a partir da alcáçova. 

Já no local que hoje corresponde à Praça do Martim Moniz, conseguimos observar a torre que integrava a Muralha Fernandina edificada no século XVI, que actualmente se mantém visível a partir da praça e que se encontra, tal como representada na maquete, ladeada por edifícios. 

Apesar das várias transformações por que passou, a Mouraria apresenta ainda evidentes traços da Lisboa pré-pombalina e pré-terramoto que fazem deste um singular bairro histórico.

Por Joana Semedo, aluna do Mestrado em Museologia

Diário de Campo, 22/04/2024 (1)

Mapa do percurso realizado no bairro da Mouraria.

Começamos o nosso percurso às 16:40 saindo do Centro de Inovação Mouraria descendo a Travessa dos Lagares e nesta descida reparámos em alguns edifícios que percorriam esta rua especialmente as portas destes prédios devido às suas singularidades.

Descendo a Travessa dos Lagares chegámos ao Largo do Terreirinho onde observámos a habitual trânsito de carros e população neste local, seguimos pela rua Marquês Ponte de Lima e decidimos explorar a Vila Almeida, um pequeno conjunto habitacional maioritariamente composto por imigrantes em pequenos lotes habitacionais e conversamos com um dos moradores que nos explicou a sua situação e como foi viver para este local e ao lado da sua casa existia uma talha de grandes dimensões bem conservada.

Após a nossa visita à vila Almeida passámos pelo Beco da Amendoeira e conversámos também com uma das moradoras deste beco que nos indicou uma associação presente neste beco, a associação Ideias com Panos cuja proprietária Amália explicou-nos o que fazia na associação e como obteve este espaço, nesta associação são realizados  workshops de costura e Amália faz os seus trabalhos de costura estando atualmente a fabricar os fatos das crianças das marchas populares dos bairros da Mouraria e da encosta do castelo, alertou-nos da diminuição das crianças destes bairros ao longo dos anos.

Após a nossa visita ao Beco da Amendoeira percorremos a Calçada de Santo André até chegarmos de novo ao Largo de Terreirinho e voltamos a entrar na rua Marquês Ponte de Lima tendo depois virado no Pátio do Coleginho onde observámos azulejos numa das fachadas do edifício neste pátio, seguimos a rua Marquês Ponte de Lima até chegarmos às escadinhas da saúde onde terminámos o nosso percurso.

Diogo Sebastião, aluno de Mestrado de Arqueologia.

Diário de Campo, 22/03/2024 (2)

Mapa do percurso realizado no bairro da Mouraria.

Em poucas ruas, muito contraste. Hoje fizemos um percurso curto mas pleno de diferenças, demorando-nos em cada paragem, seja pela conversa seja pela análise de pormenores que pouco a pouco se tornam mais evidentes, à medida que o trabalho de campo avança.

Adentramos por uma vila operária (a Vila Almeida 13), encostada ao Coleginho, “primeira casa própria da Companhia de Jesus em todo o mundo”. Pelos espaços que ligam casas e sobem a vertente, vamos encontrando homens jovens e mais velhos, uma criança pela mão do pai, provavelmente do Bangladesh, que nos cumprimentam e respondem em Português perfeito. Um deles usa o chão como mesa de trabalho, colocando rosas dentro de embalagens de plástico – daquelas que depois vemos a serem insistentemente vendidas junto de mesas onde qualquer casal se junte para jantar. Uma delas, possivelmente partida no processo, é presenteada ao grupo. Junto a ele, um senhor mais velho, com o ar típico de português de bairro, vem estender roupa à porta. Está ali há apenas um mês, mas é lisboeta desde sempre, e andou por todo o lado – não perguntamos detalhes, talvez temendo alguma história mais pesada de sem abrigo, mas esperamos poder continuar a conversa mais tarde. Mesmo junto à sua porta, ainda se vê uma talha, meia enfiada no chão, rachada, com uma lage de pedra a tapar a boca. O senhor insiste que pode ser um forno ou um alambique, e em vão tentamos explicar que seria um silo para armazenar bens alimentares.

Na rua mesmo ao lado, conversamos com uma senhora que nos ouve a comentar uma inscrição em pedra sobre uma ombreira, e se assoma à porta, calorosa e simpática. Ao comentarmos uma loja que vemos no outro lado do pequeno largo da Rua da Amendoeira, insiste que sim, que vamos lá, pois lá está a sua comadre. Esta, Natália, tem este projecto há 6 anos, onde tanto arranja antigo como faz novo. Na “Ideias com Panos”, um projecto com o apoio da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, fala-nos dos vários projectos que tem feito ao longo dos anos, desde vestidos de casamento a cortinas de cinema. E mostra-nos, com a provocação de quem mostra algo que ainda é segredo, o desenho dos fatos das marchas deste ano – imediatamente começamos a reconhecer nos panos que nos rodeiam os padrões e cores dos fatos, cada um feito à medida para quem o vai usar, com o nome escrito a giz no pano. Ambas estas senhoras moram neste largo há mais de 50 anos, e vêem-se felizes. O que contrasta com a nossa primeira entrada naquela estreita rua, marcado pela droga e pela ilegalidade, e que assim estranhamente se abre para esta luz e alegria.

Continuaremos a ver estes contrastes numa próxima rua, por detrás do Coleginho de Santo-Antão-o-Velho, onde, junto a uma porta e fachada reabilitadas, vemos um homem de meia idade, promotor imobiliário talvez, a acabar de mostrar uma casa a um jovem estrangeiro. Em inglês, elogia a casa e comenta outras tantas que tem por Lisboa, mas mais longe do centro.

Demonstra-se assim a diversidade e a riqueza da Mouraria, em 3 ruas contíguas, que se estendem da Rua do Marquês de Ponte de Lima em direcção ao castelo.

Leonor Medeiros, arqueóloga

Diário de Campo, 18/03/2024

Mapa do percurso realizado no bairro da Mouraria.

No dia 18 de março, pelas 15:30, realizámos um passeio pela Mouraria que partiu da Travessa dos Lagares, com o intuito de fazer um registo de impressões a partir dos cinco sentidos. 

Ao longo do percurso procurámos registar cores, cheiros, texturas, elementos visuais como pontos de vista, estruturas arquitectónicas e outras noções que permitissem caracterizar o bairro.

Apesar de o tempo não ter sido muito, foi-nos possível detectar em meia hora características interessantes, desde logo, na subida ao Caracol da Graça, onde a arte urbana marca a sua presença de uma forma subtil, entre as cores vibrantes, próprias da arquitectura deste espaço. Diferentes cores e estilos de azulejo foram-nos acompanhando ao longo do trajecto, ornamentando os edifícios e chegando a estar presente até entre as peças da calçada, numa conjugação inesperada mas bastante expressiva de uma noção identitária, tanto do bairro como de Lisboa.

A relação com outros pontos da cidade foi também interessante de observar, estando a Mouraria situada na capital das sete colinas. Desde o rio que se vislumbra a partir do topo do Caracol da Graça, à Igreja de São Vicente de Fora que surgiu na paisagem enquanto percorríamos a Travessa das Mónicas, são vários os pontos de vista possíveis ao longo percurso.

Chegados ao largo do Menino de Deus, fomos surpreendidos pela igreja barroca do cimo da calçada que, apesar de imponente, passa algo despercebida naquele que é um dos limites que forma o bairro.

Será relevante ressaltar que não encontrámos na nossa curta rota, algum tipo de apoio à mobilidade condicionada, pelo que, ao nível da acessibilidade considerámos que existe ainda uma urgência para a reflexão e acção sobre este tema que não deve ser desconsiderado.

Ao percorrer a calçada de Santo André, deparámo-nos com o Largo do Terreirinho (que pela sua dimensão aparenta estar sempre com alguma afluência) subindo, de seguida, a estreita Travessa dos Lagares para retomar o nosso ponto de partida.

Joana Semedo, aluna de Mestrado em Museologia