Apresentamos um levantamento de equipamentos e edifícios de interesse patrimonial, património religioso (capelas e igrejas), equipamentos culturais, centros culturais, intervenções de arte urbana e largos do bairro, no território da Mouraria. O mapeamento tem como principal objectivo o de facilitar a visualização da oferta cultural do bairro, que nos permitiu compreender que existe, na Mouraria, a ausência de um museu que se encontre actualmente aberto ao público e que invoque noções representativas e identitárias do bairro.
Por Joana Semedo, aluna do Mestrado em Museologia.
O objectivo do percurso foi o de fazer uma prospecção aos largos que serão estudados no Erasmus+. Seguem algumas observações:
Largo da Rosa (1º do percurso): Pequenas dimensões, relativamente calmo mas movimento basicamente turístico, barulho de obra, visibilidade reduzida ao próprio largo e seu envolto; na hora que visitámos havia poucas pessoas não-turistas, mas em geral, a percepção que se tem é que ali acaba por ser um refúgio ao sol e um respiro entre escadarias, ou seja, não parece ser um local turístico por si, mas o fluxo é turístico, num esquema de local de passagem e descanso.
Largo dos Trigueiros (2º): é uma laje entre escadarias abraçada pela restauração; movimento turístico e de consumo, barulhento, visibilidade ao largo e envolto, mas também com vista mais aberta na descida pela escadaria; compreende uma fonte desativada.
Largo de São Cristóvão (3º): muito fluxo de turistas, tanto como local de passagem, como de permanência/descanso, dado o comércio e restauração claramente voltados a esse público; largo menos “recintado” (mais aberto e mais “privilegiador” de fluxo contínuo), inclusive com fluxo de carros; bastante barulhento; tem a igreja como grande elemento de referência, mas também o palácio.
Largo da Achada (4º): vazio, declive desconfortável, não tem grandes zonas de sombra; acaba por ser uma grande escadaria/laje pouco centralizadora, digamos assim.
Todos os largos têm placas do circuito interpretativo histórico. Têm potencialidade enquanto objetos de estudo no âmbito do Erasmus+ e encontram-se próximos uns dos outros.
Por Raphael Corrêa, aluno da Licenciatura em Arqueologia.
O nosso percurso começou por volta das 15:30 quando saímos do CIM na Travessa dos Lagares com o objetivo de explorarmos novos largos e visitarmos os largos já conhecidos pela Mouraria. Após sairmos do CIM seguimos pela Rua dos Lagares onde observámos obras a serem realizadas pela rua e num dos prédios desta rua, descemos pelo Largo das Olarias onde analisámos o potencial deste largo para ser trabalhado neste projeto.
Descendo este largo existe um pequeno parque espaçoso onde estão instalados três aparelhos para a realização de exercício físico ao lado de um complexo de apartamentos privados, exemplificando a diferença de habitação neste bairro. Indo em direção ao Largo do Terreirinho existe uma pequena rua paralela no Largo das Olarias onde é possível observar uma cruz pintada numa parede, sendo esta particularidade importante porque neste local foi encontrado um cemitério.
Chegando ao Largo do Terreirinho seguimos em direção à rua Marquês Ponte de Lima fomos até ao Beco da Amendoeira onde observámos o pequeno largo que existe nesta zona e as suas possibilidades de ser explorado neste projeto. Após a visita ao Beco da Amendoeira seguimos a rua Marquês Ponte de Lima até chegarmos ao Largo da Rosa. Este é um largo bastante espaçoso e organizado onde nos Santos Populares são realizados arraiais.
Após a visita a este largo seguimos a Rua das Farinhas até chegarmos ao Largo das Gralhas, um pequeno largo na direção de um outro largo o Largo da Achada sendo este maior e mais espaçoso com um espaço amplo e uma fonte no meio de umas pequenas escadas circulares. Após esta visita seguimos pela rua da Achada até chegarmos ao Largo de São Cristóvão. Descemos as escadas que ligam o largo à Travessa da Madalena até chegarmos à Rua da Madalena por onde seguimos até à Rua do Arco do Marquês de Alegrete.
Ao seguirmos esta rua passamos pela Igreja da Nossa Senhora da Saúde e pelo Centro Comercial da Mouraria tendo depois seguido pela Rua do Capelão em direção ao Largo da Severa. Neste caminho seguimos pela Rua João do Outeiro onde existe um largo com grande potencial de ser trabalhado uma vez que tem grandes escadas a fazer uma espécie de bancada e árvores a proporcionarem sombra nesta zona. Seguimos pelo Beco do Jardim e chegámos ao Largo da Severa, um largo bastante conhecido pela população local e onde se localiza a antiga casa de Maria Severa.
Após a visita a estes vários Largos na Mouraria seguimos de volta para o CIM fazendo o trajeto pela Rua da Guia seguindo o Largo do Terreirinho tendo depois subido a Travessa dos Lagares até retornarmos ao nosso ponto de partida. Neste percurso fomos acompanhados pelo fotógrafo da NOVA FCSH Luís Reis, que nos ajudou a fotografar os diferentes pontos do nosso percurso.
Texto de Diogo Sebastião, aluno do Mestrado em Arqueologia. Fotografias da autoria de Luís Reis.
Começamos o nosso percurso às 16:40 saindo do Centro de Inovação Mouraria descendo a Travessa dos Lagares e nesta descida reparámos em alguns edifícios que percorriam esta rua especialmente as portas destes prédios devido às suas singularidades.
Descendo a Travessa dos Lagares chegámos ao Largo do Terreirinho onde observámos a habitual trânsito de carros e população neste local, seguimos pela rua Marquês Ponte de Lima e decidimos explorar a Vila Almeida, um pequeno conjunto habitacional maioritariamente composto por imigrantes em pequenos lotes habitacionais e conversamos com um dos moradores que nos explicou a sua situação e como foi viver para este local e ao lado da sua casa existia uma talha de grandes dimensões bem conservada.
Travessa dos Lagares
Entrada da Vila Almeida
Talha conservada ao lado de uma das habitações na Vila Almeida
Após a nossa visita à vila Almeida passámos pelo Beco da Amendoeira e conversámos também com uma das moradoras deste beco que nos indicou uma associação presente neste beco, a associação Ideias com Panos cuja proprietária Amália explicou-nos o que fazia na associação e como obteve este espaço, nesta associação são realizados workshops de costura e Amália faz os seus trabalhos de costura estando atualmente a fabricar os fatos das crianças das marchas populares dos bairros da Mouraria e da encosta do castelo, alertou-nos da diminuição das crianças destes bairros ao longo dos anos.
Beco da Amendoeira
Associação Ideias com Panos
Após a nossa visita ao Beco da Amendoeira percorremos a Calçada de Santo André até chegarmos de novo ao Largo de Terreirinho e voltamos a entrar na rua Marquês Ponte de Lima tendo depois virado no Pátio do Coleginho onde observámos azulejos numa das fachadas do edifício neste pátio, seguimos a rua Marquês Ponte de Lima até chegarmos às escadinhas da saúde onde terminámos o nosso percurso.
Calçada de Santo André
Edifício na Calçada de Santo André
Pátio do Coleginho
Vista da Igreja da Graça no Pátio do Coleginho
Escadinhas da Saúde
Diogo Sebastião, aluno de Mestrado de Arqueologia.
Em poucas ruas, muito contraste. Hoje fizemos um percurso curto mas pleno de diferenças, demorando-nos em cada paragem, seja pela conversa seja pela análise de pormenores que pouco a pouco se tornam mais evidentes, à medida que o trabalho de campo avança.
Adentramos por uma vila operária (a Vila Almeida 13), encostada ao Coleginho, “primeira casa própria da Companhia de Jesus em todo o mundo”. Pelos espaços que ligam casas e sobem a vertente, vamos encontrando homens jovens e mais velhos, uma criança pela mão do pai, provavelmente do Bangladesh, que nos cumprimentam e respondem em Português perfeito. Um deles usa o chão como mesa de trabalho, colocando rosas dentro de embalagens de plástico – daquelas que depois vemos a serem insistentemente vendidas junto de mesas onde qualquer casal se junte para jantar. Uma delas, possivelmente partida no processo, é presenteada ao grupo. Junto a ele, um senhor mais velho, com o ar típico de português de bairro, vem estender roupa à porta. Está ali há apenas um mês, mas é lisboeta desde sempre, e andou por todo o lado – não perguntamos detalhes, talvez temendo alguma história mais pesada de sem abrigo, mas esperamos poder continuar a conversa mais tarde. Mesmo junto à sua porta, ainda se vê uma talha, meia enfiada no chão, rachada, com uma lage de pedra a tapar a boca. O senhor insiste que pode ser um forno ou um alambique, e em vão tentamos explicar que seria um silo para armazenar bens alimentares.
Entrada da Vila Almeida
Escadinhas na Vila Almeida
Pátio interior da Vila Almeida
Talha no pátio da Vila Almeida
Fachada da Igreja do Coleginho de Santo-Antão-o-Velho vista da Vila Almeida
Na rua mesmo ao lado, conversamos com uma senhora que nos ouve a comentar uma inscrição em pedra sobre uma ombreira, e se assoma à porta, calorosa e simpática. Ao comentarmos uma loja que vemos no outro lado do pequeno largo da Rua da Amendoeira, insiste que sim, que vamos lá, pois lá está a sua comadre. Esta, Natália, tem este projecto há 6 anos, onde tanto arranja antigo como faz novo. Na “Ideias com Panos”, um projecto com o apoio da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, fala-nos dos vários projectos que tem feito ao longo dos anos, desde vestidos de casamento a cortinas de cinema. E mostra-nos, com a provocação de quem mostra algo que ainda é segredo, o desenho dos fatos das marchas deste ano – imediatamente começamos a reconhecer nos panos que nos rodeiam os padrões e cores dos fatos, cada um feito à medida para quem o vai usar, com o nome escrito a giz no pano. Ambas estas senhoras moram neste largo há mais de 50 anos, e vêem-se felizes. O que contrasta com a nossa primeira entrada naquela estreita rua, marcado pela droga e pela ilegalidade, e que assim estranhamente se abre para esta luz e alegria.
Pátio do Coleginho
Rua da Amendoeira
Entrada de vila operária
Beco das Maravilhas
Continuaremos a ver estes contrastes numa próxima rua, por detrás do Coleginho de Santo-Antão-o-Velho, onde, junto a uma porta e fachada reabilitadas, vemos um homem de meia idade, promotor imobiliário talvez, a acabar de mostrar uma casa a um jovem estrangeiro. Em inglês, elogia a casa e comenta outras tantas que tem por Lisboa, mas mais longe do centro.
Demonstra-se assim a diversidade e a riqueza da Mouraria, em 3 ruas contíguas, que se estendem da Rua do Marquês de Ponte de Lima em direcção ao castelo.
No dia 18 de março, pelas 15:30, realizámos um passeio pela Mouraria que partiu da Travessa dos Lagares, com o intuito de fazer um registo de impressões a partir dos cinco sentidos.
Ao longo do percurso procurámos registar cores, cheiros, texturas, elementos visuais como pontos de vista, estruturas arquitectónicas e outras noções que permitissem caracterizar o bairro.
Apesar de o tempo não ter sido muito, foi-nos possível detectar em meia hora características interessantes, desde logo, na subida ao Caracol da Graça, onde a arte urbana marca a sua presença de uma forma subtil, entre as cores vibrantes, próprias da arquitectura deste espaço. Diferentes cores e estilos de azulejo foram-nos acompanhando ao longo do trajecto, ornamentando os edifícios e chegando a estar presente até entre as peças da calçada, numa conjugação inesperada mas bastante expressiva de uma noção identitária, tanto do bairro como de Lisboa.
Arte urbana nas escadas Caracol da Graça
Azulejos do século XX em fachada de edifício
Reutilização de azulejos em pavimento
A relação com outros pontos da cidade foi também interessante de observar, estando a Mouraria situada na capital das sete colinas. Desde o rio que se vislumbra a partir do topo do Caracol da Graça, à Igreja de São Vicente de Fora que surgiu na paisagem enquanto percorríamos a Travessa das Mónicas, são vários os pontos de vista possíveis ao longo percurso.
Vista sobre a Igreja de São Vicente de Fora, na Graça
Chegados ao largo do Menino de Deus, fomos surpreendidos pela igreja barroca do cimo da calçada que, apesar de imponente, passa algo despercebida naquele que é um dos limites que forma o bairro.
Rua na Mouraria com a colina do Castelo ao fundo
Rua na Mouraria com a torre sineira da Igreja de Santa Cruz do Castelo ao fundo
Igreja do Menino de Deus
Será relevante ressaltar que não encontrámos na nossa curta rota, algum tipo de apoio à mobilidade condicionada, pelo que, ao nível da acessibilidade considerámos que existe ainda uma urgência para a reflexão e acção sobre este tema que não deve ser desconsiderado.
Ao percorrer a calçada de Santo André, deparámo-nos com o Largo do Terreirinho (que pela sua dimensão aparenta estar sempre com alguma afluência) subindo, de seguida, a estreita Travessa dos Lagares para retomar o nosso ponto de partida.
O nosso primeiro percurso, espontâneo e com intuito de explorar o território, teve como ponto de partida inicial as Escadinhas da Saúde, em frente à Praça Martim Moniz. Infelizmente, estavam fechadas, então decidimos seguir em direção à Casa-Museu Fernando Maurício que, embora também encerrada, dispunha de arte nas ruas que nos envolvia com elementos que remetiam ao universo do fado e de uma atmosfera gradualmente menos turística.
Poster fotográfico de fadista na Rua do Capelão
Manifestação plástica na rua João do Outeiro
Ao alcançarmos o ponto mais alto do trajeto, descemos pela Rua da Costa do Castelo até chegarmos a um dos principais enclaves do bairro, a Travessa do Açougue. A partir desse momento, percebemos uma retomada da intensidade turística, principalmente na via escolhida para seguirmos, a Calçada de Santo André. Mudamos depois para a Rua dos Lagares e passamos pelo Funicular da Graça, prestes a ser inaugurado no dia seguinte, e também pelo Centro de Inovação da Mouraria, a “sede” do projeto.
Vista panorâmica desde a Rua da Guia
Subida das escadarias da Rua da Guia
Azulejos em fachada e manifestação artística
Ao desviarmos para o Largo das Olarias, nos deparamos com a Villa Luz Pereira, uma antiga vila industrial. Continuamos nosso percurso pela Rua das Olarias e pela Rua da Bombarda, até tomarmos a Travessa do Maldonado em direção ao Intendente, onde decidimos concluir nossa caminhada. Retornamos à Praça Martim Moniz via Avenida Almirante Reis e Rua da Palma.
Vista interna do bairro operário de Villa Luz Pereira
Fachada do bairro operário de Villa Luz Pereira
Prédio na Rua da Lombarda
Raphael Corrêa, aluno de Licenciatura em Arqueologia